Irena Sendler
"Ajuda
sempre o que se está a afogar, sem ter em conta a sua religião ou
nacionalidade.
Ajudar
cada dia alguém tem que ser uma necessidade que saia do coração".
Foi este ensinamento e
recomendação recebida dos pais que levou a polaca Irena Sendler (1910-2008)
a salvar da morte no
holocausto nazista 2.500 crianças judias que viviam no gueto de Varsóvia.
Por isso, chamaram-lhe
"a mãe das crianças do Holocausto" e "o Anjo do gueto de
Varsóvia".
Irena Sendler
nasceu em Varsóvia, na Polónia, em 1910. Era enfermeira e trabalhava no
Departamento de Bem-Estar Social da sua cidade, que administrava as cozinhas
sociais, quando a Alemanha invadiu a Polónia, em 1939. Três anos depois, os
nazistas alemães criaram o gueto de Varsóvia. Horrorizada pelo que ali via,
Irena começa a colaborar com o Conselho para a Ajuda aos Judeus. Os alemães
tinham medo que se desencadeasse uma epidemia de doenças contagiosas. Por isso,
permitiam que fossem os polacos a controlarem o gueto.
Esta situação
deu a Irena a possibilidade de conhecer e contactar com as famílias judias a
quem levada muitas ajudas. Prevendo que as crianças seriam deportadas e
morreriam com os pais nos campos de concentração para onde os nazistas os
levavam, a enfermeira ofereceu-se para procurar pôr as crianças a salvo fora do
gueto. Era difícil convencer os pais e os avós a separarem-se dos seus filhos e
netos. Irena era mãe e compreendia o drama da separação, mas procurava
convencer estes pais de que era a única possibilidade de salvarem os seus
filhos. Às crianças que lhe eram entregues, ela leva-as para fora do gueto
usando vários meios para as esconder: ambulâncias, passando como contagiadas
com o tifo, caixas de ferramentas, caixotes do lixo, carregamentos de
mercadorias, sacos de batatas e até caixões.
Irena trazia
crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de
sarapilheira na parte de trás da sua caminhoneta (para crianças de maior
tamanho). Também levava na parte de trás da caminhoneta um cão a quem ensinara
a ladrar aos soldados nazistas quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o
cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer.
Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de
2.500 crianças.
Conseguiu
recrutar colaboradores no Departamento de Bem-Estar Social e com eles
arranjaram documentos falsos com novas identidades das crianças. Irena escondia
o registo do nome verdadeiro com o nome falso em frascos e enterrava-os debaixo
de uma árvore no jardim do vizinho. Só ela sabia onde estavam os nomes. As
crianças eram confiadas a famílias de confiança que as adotavam e educavam.
Por fim os
nazistas apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de Outubro de 1943.
Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak,
onde foi brutalmente torturada. Ela, a única que sabia os nomes e moradas das
famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou-se a trair
seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das
pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação.
Já recuperada,
foi no entanto condenada à morte, mas no caminho para o lugar da execução, o
soldado que a levava deixou-a fugir. Enquanto esperava pela execução, um
soldado alemão levou-a para um "interrogatório adicional". Ao sair,
gritou-lhe em polaco: "Corra!".
Esperando ser baleada pelas costas, Irena contudo correu por uma porta
lateral e fugiu, escondendo-se nos becos cobertos de neve até ter certeza que
não fora seguida.
No dia
seguinte, já abrigada entre amigos, Irena encontrou o seu nome na lista de
polacos executados que os alemães publicavam nos jornais. Os membros da
organização Zegota ("Resgate") tinham conseguido deter a execução de
Irena subornando os alemães, e Irena continuou a trabalhar com uma identidade
falsa.
Num colchão de
palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição:
"Jesus, em Vós confio", e conservou-a consigo até 1979, quando a
ofereceu ao Papa João Paulo II.
Finda a guerra
e a ocupação, Irena desenterrou os frascos e, com a ajuda do comitê de salvação
dos judeus sobreviventes, procurou as crianças que salvara para lhes revelar a
sua verdadeira identidade e as entregar às suas famílias. Infelizmente, muitos
dos pais tinham sido mortos. As crianças que tinham parentes foram por estes
acolhidas.
Ao longo do
resto da sua vida, muitas destas crianças a reconheceram e lhe mostraram uma
inesquecível gratidão por as ter salvo da morte. Ela dizia porém simplesmente:
"Poderia ter feito mais, e este
lamento continuará comigo até ao dia em que eu morrer". Teve uma vida
longa até aos 98 anos, morrendo no ano de 2008.
A sua obra
ficou escondida durante muitos anos, mas felizmente acabou por ser descoberta e
reconhecida. A organização judaica Yad Vashem de Jerusalém atribuiu-lhe o
título de "Justa entre as Nações"
e nomeou-a cidadã honorária de Israel.
Estas suas
palavras podem bem resumir o que procurou fazer na sua vida: "Não se plantam sementes de comida.
Plantam-se sementes de bondades. Tratem de fazer um círculo de bondades. Estas
vos rodearão e vos farão crescer mais e mais".
Em 2006 foi
proposta para receber o Prêmio Nobel da Paz... mas não foi selecionada. Quem o recebeu foi Al Gore por sua
campanha sobre o Aquecimento Global. (sem comentários)...
Não permitamos
que alguma vez esta Senhora seja esquecida!
Agora, mais do
que nunca, com o recrudescimento do racismo, da discriminação e os massacres de
milhões de civis em conflitos e guerras sem fim em todos os continentes, é
imperativo assegurar que o Mundo NUNCA esqueça de gente como Irena Sendler, que
salvou milhares de vidas, praticamente sozinha.
Veja também:
- Slides sobre Irena Sendler